13 de setembro de 2010

RéPlay.



Resolvi arrumar aquela bagunça daquela gaveta esquecida, cheia de papeis e fotos. Toda empoeirada. Não sei o que deu em mim, mas olhei para a tal gaveta e resolvi encarar.
Sabia que estaria revirando lembranças. Algumas guardadas para serem lembradas e outras guardadas para o esquecimento. Arrumar aquela bagunça sempre exigiu de mim extrema paciência e estômago. Sempre parei para vasculhar como escolha de um momento profundo. Várias vezes dei início e parei no meio. Eram coisas que quando foram acontecendo fui guardando e como não fui eu quem fez minha mudança, as lembranças foram grudadas em mim. Era como uma tatuagem da qual não se da para arrancar da pele.
Coloquei o cd que o Rafael me deu com algumas das músicas mais inspiradoras da minha vida e com um saco enorme de lixo na mão, me sentei em frente à gaveta e suspirei bem fundo antes de abrir...
A primeira coisa que peguei para ver foram as fotos.
Fotos de quando criança fazendo cabaninha de lençol com a minha prima nas viagens para Muriqui, muito queimada de sol e com os dentes em formação ainda. Era tão boa a cumplicidade que tínhamos. Apesar das nossas brigas constantes e bem violentas, éramos como unha e carne, quando não estávamos com tais cravadas uma na outra. Hoje em dia nos amamos além da conta, nossas brigas nunca mais aconteceram, o contato diário já não é o mesmo, mas a admiração prevalece.
Fotos em algum lugar desconhecido da minha memória, porém, lindo. Me conhecendo bem, sei que gostei de estar lá. Na foto estou sentada na areia da praia, tomando suco em um abacaxi e chorando demais. A foto está engraçada, não tenho idéia do porque eu chorava tanto, devia ser algo horrível pela cara que eu fazia, deve ser por isso que hoje odeio abacaxi. Me deu saudade da época de filha única e dos passeios com os meus pais juntos.
Foto do aniversário de 15 anos da minha irmã mais velha, de quando conheci minhas duas irmãs por parte de pai. Eu tinha dois aninhos e hoje ela me conta que naquela festa maravilhosa que ela teve, a única coisa que ela fez foi ficar comigo.
Fotos da época de escola, das primeiras amigas, das festas, das reuniões à tarde depois da aula... Fotos das milhares de fases que tive, milhares de estilos e cabelos diferentes. Fotos com as amigas que ajudaram a formar minhas opiniões e cresceram junto comigo.
Pulei para as agendas. Sempre gostei de escrever e cada ano eu tinha umas três agendas. Confições em detalhes de cada fase da minha vida, decepções amorosas, declarações imaturas, situações engraçadas, momentos críticos de raiva e revolta, segredos em papeis embrulhados e presos com fitas adesivas e grampeador. Coisas que quando li, me feriram. Coisas que quando li, notei o quanto estou madura. Rabiscos, rascunhos, desenhos, planos, projetos, desejos... Nomes que não lembro e que prefiro nem lembrar.
Corri para as cartas. São várias, de várias pessoas, de vários tipos. Decoradas, escritas a mão, no computador e até em máquina de escrever. Cartas em forma de versos, rimas, desabafo, conselho, admiração. Escritas que me fizeram crescer, escritas que me fizeram ficar triste... Muitas com apenas algumas escritas válidas só para o momento.
É engraçado que vendo tudo isso, me lembro exatamente de como foi e de como me senti. É como se tivesse tudo gravado em uma fita cassete e eu pudesse voltar a hora que eu quisesse.
Antes me confortava saber que tinha todas aquelas lembranças alí, saber que eu poderia reviver tudo aquilo a qualquer hora. Agora não mais.
O saco de lixo foi muito útil. As agendas foram depenadas. Parte boa fica - parte ruim sai. As fotos foram todas bem aproveitadas, até porque, todas aquelas pessoas me proporcionaram momentos incríveis.
Eu cresci tanto, me aprovo disso a cada passo que dou, a cada pensamento que surge. Me orgulho do meu progresso diário.
Será que eu uso estas coisas como refúgio? É uma arma? Prova? Esconderijo?
É preciso?
Por um momento pensei "Chega de guardar essas 'tralhas', vou viver apenas o presente".
Olhei para a prateleira na minha cama e vi diversas caixas com presentes lindos e cartas incríveis do Rafael, todos os bilhetinhos carinhosos e de brigas com a minha mãe, cada desenhado mal rabiscado da minha priminha mais nova. Isso eu sei que não vou jogar fora.
Me toquei de que tenho que parar de tentar mudar, tenho que deixar as coisas acontecerem à gosto... À meu gosto.

-Está tudo guardado em mim.