19 de novembro de 2010

Mochileiro

Com minha bolsa enorme e pesada, cabelo preso em um coque frouxo, calça jeans, blusa branca e meu anel enorme novo, sempre um novo... Nenhuma empolgação com qualquer projeto futuro, nenhum pensamento. Nada de revolucionário para me orgulhar, nenhum livro terminado ou de sucesso, nenhum filme record em bilheteria, nenhuma fama por ato simples ou motivo de heroísmo. Nada. Apenas meu drama pessoal que daria um filme impossível de ser interpretado  com um roteiro indiscreto.
Eu.
Ando por ai olhando ao redor tudo que podia ser melhor. Não me contento.
Eu quero ir embora. Admiro tanto quem vai embora. Programado ou dado na telha, eu quero ir. Não ligo de deixar tudo que tenho aqui, eu quero ir.
Quero ir pra China sem falar chinês, fazer yoga e aprender origami. Quero ir pro Japão e andar como uma Decora Kei ou uma Mori Girl, sem falar japonês. Quero ir para o Havaí aprender a surfar, pegar pelo menos uma onda e tirar uma foto do pôr do sol dourado. Quero ir para Portugal visitar Vasco da Gama, beber em boteco e fumar os cigarros fortes. Quero visitar Dubai, levar algo feliz para o máximo de crianças possíveis, escurecer meus olhos com maquiagem forte e comprar pelo menos uma pulseira de ouro. Quero ir para um hotel cinco estrelas em Cancun, observar tudo com um chapéu grande tomando um drink decorado na piscina. Quero comer uma pizza peperoni na Itália. Quero ir à Miami beach. Sair uma noite em Nova York. Quero ir a Ibiza e fazer top less na praia com naturalidade. Quero o frio do bar de gelo em Amsterdam após assistir as artistas dançarinas de vitrine se prostituindo. Quero ir a um coliseu na Grécia. Quero velejar em Veneza...
Tenho fome de tantos lugares...
Quero a minha Paris. Lá eu quero me perder nas vielas pela manhã e admirar as luzes a noite sob a Torre Eiffel, comer quiche,  conhecer os ateliês de que sempre sonhei, caminhar a tarde ouvindo uma chique e calma música de Paris, só em Paris. Admirar as lindas pessoas bem vestidas bebendo um suco de frutas após um café, andar de bicicleta pelas praças de Paris.
Eu quero ir. Escuto suas histórias para boi dormir feliz da vida. Diz que me leva e aceito. Minha mochila está a sua espera, depois que eu for sozinha. Ou depois eu vou sozinha.
Mas eu quero ir.

18 de novembro de 2010

Águas Passadas

Estou medindo tempo. Me refiro as águas.
Pequei a saudável mania de beber um copo de água a cada hora que passa. Isso após o meu café da manhã quase que canino, porém, importantíssimo para o bom funcionamento do meu corpo.
Não é nada revolucionário, importante demais. Mas me regula, em todos os significados da palavra, inclusive do trabalho.
Cala minha boca quase berrante um belo gole dela bem gelada. Refresca o cérebro. Da choque.
Começam as ligações cedo, o toque alto e irritante do telefone ao meu lado me  dá ância. Os pedidos vem logo em seguida. As águas junto com eles.
Água número 1 das 09:00, água número 2 das 10:00, 3 das 11:00, 4 do meio dia.
Nesse meio tempo me contorço de cólica antes de me render a ir ao banheiro. Prendo até o último minuto.
No copo que seria para ser o quinto, pauso em tudo. Não aguento mais água,as cólicas, idas ao banheiro, ouvir as vozes , nem o to que do telefone. Não aguento mais pensar.
Mas as 14:00 voltam as águas, as cólicas, as idas ao banheiro, as vozes, o telefone e os pensamentos. Todos de mãos dadas me atormentar.
Na água 7 já estou tão louca quanto tudo que me ronda.
Vem as cobranças, e cadê a minha organização diante de tudo?
Bom, os documentos para arquivar foram o copo 1, 09:00, o ligação pendente foi no copo 3, 11:30, o documento digitado foi no copo 6, 16:20, o agendamento da reunião foi no copo 5, 14:40. Falei com meu namorado entre um copo e outro, mais precisamente no 1, 4, 5 e 7.
Minha hora mais esperada é o copo 9, o de ir embora, porém,  depois disso fico perdida. Não tenho o Outlook para me avisar de hora em hora que está na hora de eu beber meu copo de água. Me contendo com as idas ao banheiro espelham as águas do dia todo. E me esqueço do que foram feitos nos copos anteriores.
No copo 15 me desligo.

17 de novembro de 2010

Sobre um passado mal vivido (um)

Ouvindo "Filtro Solar" do Pedro Bial (acreditem, nunca tinha escutado), uma frase me chamou atenção, o contexto que eu precisava ouvir, o alerta que eu precisava para ver o que estava bem ao meu lado, mais precisamente, dentro de mim, fazendo parte de mim, da minha personalidade, do que sou hoje ou ainda serei.
Já havia pensado quando me aproximava da idade "de maluco" em que eu me encontro. A idade tão esperada, a idade tão amada, idade de nada... Da qual me vi totalmente em crise.
Estranhamente certo o fato de que realmente as pessoas mais interessantes, amadas e respeitadas por mim eram um "Zé Ninguém" importantíssimo para si mesmo para se importar com demais fatos. Em tal idade muitos não sabiam o que fazer, talvez por que não tinham nada em mente, ou porque queriam mesmo fazer nada, porque deu tudo certo, ou não se importaram... Ou se importaram e resolveram nem ligar.
Meus ídolos não foram exemplos de pessoas a serem seguidos, muitos morreram de overdose, outros já foram presos, alguns mal entendidos... Porém todos, todos admirados.
Conheço também pessoas nem tão famosas ou não famosas literalmente, pessoas que não foram ou são "prejudiciais" a população que tem minha admiração insuperável.
Não considero fútil tal admiração, não estou aqui para admirar só uma aparência deslumbrante, estou aqui para admirar uma mente brilhante.
A mente brilhante dos poetas sujos que mesmo fora da realidade m fazem chorar e levar como filosofia seus ditos, mentes brilhantes que me fazem assistir o mesmo filme milhões de vezes só para descobrir cada vez um novo conteúdo brilhante nas suas falas, mentes que me fazem assistir este mesmo filme mais mil vezes para reparar agora nos detalhes dos figurinos, posturas, formas e fatos, mentes brilhantes que fazem cada pessoa de qualquer lugar do mundo ter seus pensamentos rabiscados no café da manhã na ponta da língua o tempo todo.
Admiro também as mentes brilhantes mirabolando crimes bárbaros e impensáveis.
Queria estudar cada canto de suas mentes... E encanto.
Notei que nenhum dos meus mais brilhantes amores tinha preocupação com um futuro brilhante, nenhum tentava adivinhar além de tentar um futuro bom, nenhum chorava a espera de um futuro bom... O futuro sonhado, era sem expectativa, não era uma pré-ocupação como existe em mim.
Mostravam-se tão felizes, só sofriam por amor, viviam um dia depois o outro. Talvez seja esse o remédio.